Herança: entendendo o processo de sucessão de bens de pessoas falecidas

Data: 17/07/2024
Por: Bernardo

Guia completo sobre a herança e os procedimentos legais envolvidos nesse processo

A herança é um tema que, inevitavelmente, toca a todos em algum momento da vida. Compreender o funcionamento do processo de sucessão de bens de pessoas falecidas é essencial para garantir que os direitos dos herdeiros sejam respeitados e que a partilha dos bens ocorra de forma justa e legal. Este guia oferece uma visão detalhada sobre como funciona a herança, os procedimentos legais envolvidos, e as particularidades que podem surgir ao longo do processo.

O que é herança?

Herança é o conjunto de bens, direitos e obrigações deixados por uma pessoa após o seu falecimento. Esse patrimônio é transmitido aos herdeiros, que podem ser definidos por lei (herdeiros legítimos) ou pelo falecido em um testamento (herdeiros testamentários). A herança abrange todos os bens móveis e imóveis, contas bancárias, investimentos, dívidas e outras obrigações financeiras do falecido.

Reprodução/Jornal Contábil

Tipos de herdeiros

Os herdeiros podem ser classificados em duas categorias principais:

  1. Herdeiros legítimos: São aqueles definidos pela lei, divididos em classes:
    • Descendentes: Filhos, netos, bisnetos.
    • Ascendentes: Pais, avós, bisavós.
    • Cônjuge ou Companheiro: Marido, esposa ou parceiro(a) em união estável.
    • Colaterais: Irmãos, sobrinhos, tios.
  2. Herdeiros testamentários: São aqueles que o falecido designa em seu testamento, podendo incluir pessoas físicas ou jurídicas, familiares ou não.

Processo de inventário

O inventário é o procedimento judicial ou extrajudicial necessário para formalizar a transferência dos bens do falecido para os herdeiros. Existem duas modalidades de inventário:

  1. Inventário judicial: Realizado perante um juiz, é obrigatório quando há herdeiros menores de idade, incapazes ou quando há discordância entre os herdeiros sobre a partilha dos bens. Este processo pode ser mais demorado e custoso devido à necessidade de intervenção judicial.
  2. Inventário extrajudicial: Feito em cartório, é mais rápido e menos oneroso, desde que todos os herdeiros sejam maiores, capazes e concordem com a partilha dos bens. É necessário a assistência de um advogado.

Procedimentos do inventário

O processo de inventário envolve várias etapas:

  1. Abertura do inventário: O prazo para iniciar o inventário é de 60 dias após o falecimento, sob pena de multa. Esse prazo pode variar de acordo com a legislação local.
  2. Nomeação do inventariante: O inventariante é a pessoa responsável por administrar o espólio (conjunto de bens do falecido) até a finalização do inventário. Normalmente, o cônjuge ou um dos herdeiros é nomeado para essa função.
  3. Levantamento de bens, direitos e dívidas: O inventariante deve listar todos os bens, direitos e dívidas do falecido, apresentando documentos comprobatórios.
  4. Avaliação dos bens: Os bens são avaliados para determinar o valor total da herança. Em alguns casos, é necessária a contratação de peritos.
  5. Cálculo e pagamento de impostos: O Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) é devido pela transmissão dos bens. A alíquota e as regras variam conforme o estado.
  6. Partilha dos bens: Após a quitação das dívidas e do pagamento dos impostos, os bens são partilhados entre os herdeiros conforme a lei ou o testamento.

Direitos do cônjuge e do companheiro

A posição do cônjuge ou companheiro na sucessão pode variar conforme o regime de bens adotado no casamento ou na união estável. No Brasil, os regimes mais comuns são:

  1. Comunhão parcial de bens: Todos os bens adquiridos durante o casamento são considerados comuns, e o cônjuge tem direito à metade desses bens. Os bens particulares do falecido são herdados junto com os descendentes.
  2. Comunhão universal de bens: Todos os bens, adquiridos antes e durante o casamento, são comuns. O cônjuge tem direito à metade do total dos bens.
  3. Separação total de bens: Cada cônjuge possui seu patrimônio individual. Na ausência de testamento, o cônjuge sobrevivente é considerado herdeiro necessário e tem direito a uma parte da herança.
  4. Participação final nos aquestos: Os bens adquiridos antes do casamento são particulares, e os adquiridos durante são comuns. Na dissolução do casamento, cada cônjuge tem direito à metade dos bens comuns.

Herança e dívidas

As dívidas do falecido não são transmitidas aos herdeiros pessoalmente, mas são pagas com os bens deixados. O patrimônio do falecido responde pelas suas obrigações, e os herdeiros só receberão a herança após a quitação das dívidas. Se as dívidas forem superiores aos bens deixados, os herdeiros não têm responsabilidade de pagar a diferença com seus bens pessoais.

Testamento

O testamento é um instrumento legal que permite ao falecido determinar a destinação de seus bens após a morte, respeitando a legítima dos herdeiros necessários (50% dos bens, no mínimo, devem ser reservados a esses herdeiros). Existem diferentes tipos de testamento:

  1. Testamento público: Feito em cartório, na presença de duas testemunhas. É seguro e dificilmente contestado.
  2. Testamento cerrado: Escrito pelo testador ou por outra pessoa a seu pedido, assinado e entregue ao tabelião na presença de duas testemunhas, que lavra um auto de aprovação.
  3. Testamento particular: Escrito pelo testador e assinado por ele e por três testemunhas. É mais suscetível a contestações.

Legítima

A legítima é a parte da herança que, por lei, deve ser reservada aos herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge/companheiro). Ela corresponde a 50% do patrimônio do falecido, que não pode ser destinado a outras pessoas ou entidades, mesmo por testamento.

Planejamento sucessório

O planejamento sucessório é uma estratégia que permite ao titular dos bens organizar a distribuição de seu patrimônio ainda em vida, visando evitar conflitos futuros e reduzir custos e prazos no processo de sucessão. Ferramentas como doações em vida, criação de holdings familiares e seguros de vida são comumente utilizadas para esse fim.

Compreender como funciona a herança e os procedimentos legais envolvidos é fundamental para garantir que a transmissão de bens ocorra de maneira justa e conforme a vontade do falecido. Ao seguir as etapas adequadas e estar ciente dos direitos e deveres de cada herdeiro, é possível evitar disputas e assegurar que todos os envolvidos sejam devidamente atendidos. O auxílio de profissionais qualificados, como advogados e contadores, é essencial para conduzir o processo de forma eficiente e dentro da legalidade.

Veja conteúdo relacionado

Ver mais conteúdo