Call centers enganam idosos para autorizar descontos indevidos do INSS

Data: 9/06/2025
Por: Bernardo

Milhares de aposentados e pensionistas foram vítimas de golpes sofisticados, perdendo parte de seus benefícios para associações nunca autorizadas. Entenda como essa fraude acontecia e o que fazer para se proteger

Amigo leitor, imagine a cena: você, após anos de trabalho e contribuição, finalmente desfruta da tão merecida aposentadoria. O benefício do INSS, fruto de seu esforço, é o que garante sua tranquilidade e a segurança de sua família. No entanto, de repente, você nota um valor a menos no extrato, um desconto misterioso com a sigla de uma associação que você nunca ouviu falar. A princípio, pode parecer um erro, mas a verdade por trás desses descontos indevidos é muito mais complexa e, infelizmente, atinge milhares de idosos em todo o Brasil.

Estamos falando de uma rede de enganação sofisticada, orquestrada por call centers que, de forma ardilosa, se aproveitaram da vulnerabilidade e da confiança de aposentados e pensionistas do INSS. O objetivo? Realizar descontos associativos não autorizados diretamente nos benefícios, sem que o segurado sequer soubesse que estava “aderindo” a algo. É uma situação revoltante que merece toda a nossa atenção e, principalmente, a sua informação para que você ou seus entes queridos não sejam as próximas vítimas.

Confira o vídeo completo no YouTube:

https://www.youtube.com/@InssPassoaPassoOficial

A mecânica da fraude: como os call centers agiam

Para entender a dimensão do problema, é crucial saber como esses call centers operavam. A estratégia era sempre a mesma, com pequenas variações, mas com um objetivo comum: ludibriar o aposentado.

1. A abordagem inicial: o telemarketing persuasivo

Tudo começava com uma ligação telefônica. Os operadores dos call centers, muitas vezes utilizando roteiros bem elaborados e vozes amigáveis, entravam em contato com os segurados do INSS. O discurso era variado:

  • “Atualização de cadastro”: Uma das táticas mais comuns. O operador alegava que precisava atualizar o cadastro do segurado no INSS ou em um suposto “órgão de proteção ao aposentado”. Durante essa “atualização”, informações pessoais eram coletadas, e, em algum momento, a “autorização” para o desconto era inserida de forma velada ou através de uma pergunta de duplo sentido.
  • “Oferecimento de benefícios e vantagens”: Outra abordagem era oferecer “benefícios exclusivos” para aposentados, como descontos em farmácias, planos de saúde genéricos ou até mesmo supostos “auxílios governamentais”. Para ter acesso a esses “benefícios”, o segurado precisaria “aderir” a uma associação, cujos termos eram explicados de forma rápida e confusa, ou simplesmente omitidos.
  • “Confirmação de dados”: Em alguns casos, a ligação era apenas para “confirmar” dados, e no meio da conversa, de forma sutil, a “autorização” para o desconto era obtida. O segurado, muitas vezes com dificuldade de audição ou compreensão, acabava por concordar sem saber o que estava autorizando.

2. O segredo dos dados: como conseguiam suas informações?

Uma das maiores dúvidas é: como esses golpistas tinham acesso aos dados dos aposentados? Existem diversas hipóteses e, infelizmente, algumas delas são preocupantes:

O fato é que eles tinham em mãos informações suficientes para convencer a vítima de que a ligação era legítima, o que tornava a fraude ainda mais difícil de ser percebida.

3. A “associação”: um CNPJ para legitimar a fraude

Esses descontos não apareciam do nada. Eles eram associados a um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) de alguma “associação” ou “confederação”. O problema é que muitas dessas entidades eram de fachada, criadas apenas para dar uma aparência de legalidade à cobrança indevida. Algumas até existiam legalmente, mas se associavam a essas práticas ilícitas para lucrar com os descontos.

O grande volume de reclamações e a atuação do Ministério Público e do próprio INSS revelaram que muitas dessas associações tinham milhares de “filiados” que sequer sabiam que faziam parte delas. Era uma adesão compulsória, disfarçada de voluntária.

O impacto na vida dos aposentados

Os impactos desses golpes vão muito além da perda financeira, embora essa seja a consequência mais imediata. Para muitos aposentados e pensionistas, cada real faz diferença. O valor descontado, que podia variar de R$ 30 a R$ 80 ou mais, comprometia o orçamento, a compra de medicamentos, alimentos ou o pagamento de contas essenciais.

Além disso, a sensação de ter sido enganado gera um grande sofrimento emocional. Aposentados, que deveriam desfrutar de sua paz, se viam envolvidos em burocracias, com o sentimento de impotência e frustração. A confiança em serviços telefônicos e até mesmo em instituições era abalada.

A ação das autoridades e a proteção aos segurados

Diante da avalanche de reclamações, as autoridades brasileiras começaram a agir. O Ministério Público Federal (MPF), o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a Polícia Federal e outros órgãos de defesa do consumidor intensificaram a fiscalização e a punição dessas práticas.

1. Suspensão de descontos e acordos

Em resposta ao problema, o INSS e o MPF atuaram para suspender os convênios com diversas associações que estavam realizando descontos indevidos. Muitas dessas entidades foram obrigadas a firmar Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), comprometendo-se a:

  • Suspender novos descontos: Proibição imediata de realizar novas adesões e descontos não autorizados.
  • Devolução dos valores: Obrigação de restituir os valores cobrados indevidamente aos segurados.
  • Canais de atendimento: Criação de canais específicos para que os segurados pudessem reclamar e solicitar o cancelamento.

Essa medida foi um alívio para milhares de aposentados, mas a batalha para reaver o dinheiro e cancelar os descontos nem sempre era simples.

2. Bloqueio de novas filiações digitais

Para evitar novas fraudes, o INSS implementou medidas de segurança adicionais. Uma das mais importantes foi o bloqueio da realização de novas filiações de entidades ou associações por meio de canais digitais. Isso significou que, para um desconto associativo ser efetivado, o segurado precisaria dar uma autorização expressa, muitas vezes de forma presencial ou com reconhecimento de firma, dificultando a ação dos golpistas.

3. Orientações e campanhas de conscientização

O INSS e outros órgãos também passaram a veicular campanhas de conscientização, alertando os segurados sobre os golpes e fornecendo orientações claras sobre como identificar e denunciar as fraudes. A informação se tornou a principal arma contra essa modalidade de crime.

Como identificar um desconto indevido e o que fazer

Se você é aposentado ou pensionista do INSS, ou tem um familiar nessa situação, é fundamental estar atento. A prevenção é o melhor caminho.

1. Monitore seu extrato de pagamento do INSS

Este é o passo mais importante! Verifique seu extrato de pagamento do benefício do INSS regularmente. Você pode fazer isso de diversas formas:

  • Pelo aplicativo Meu INSS: Baixe o aplicativo “Meu INSS” em seu celular. Com seu login e senha (ou criando uma conta no gov.br), você pode acessar o extrato de pagamento e visualizar todos os descontos.
  • Pelo site Meu INSS: Acesse meu.inss.gov.br e faça o login. A navegação é intuitiva para encontrar o extrato.
  • Em uma agência do INSS: Se tiver dificuldades com os canais digitais, dirija-se a uma agência do INSS para obter o extrato.
  • Em bancos conveniados: Alguns bancos permitem a consulta ao extrato do benefício em caixas eletrônicos ou por meio de seus aplicativos.

Procure por descontos com siglas estranhas, como “APOSENTADOS”, “CONTRIB. ASSOCIATIVA”, “CONTRIB. ASBAPI”, “ABBP”, “UNASP”, “CPA”, “FENAP”, “CONAFER”, “AMBEC” (apenas exemplos, pois as siglas podem mudar). Se você não reconhece o nome da associação ou nunca autorizou o desconto, é um sinal de alerta.

2. Suspeite de ligações inesperadas

Desconfie sempre de ligações de pessoas que se apresentam como representantes de associações ou do próprio INSS pedindo dados pessoais ou oferecendo “vantagens” em troca de “confirmações”.

  • O INSS não liga para pedir dados sensíveis como senhas, número de cartão ou para oferecer empréstimos consignados de forma agressiva.
  • Nunca forneça seus dados pessoais ou bancários por telefone, a menos que você tenha iniciado o contato e tenha certeza da legitimidade da instituição.
  • Não “confirme” nada que não compreenda. Se a conversa for confusa ou você se sentir pressionado, desligue.

3. Como agir se for vítima:

Se você identificar um desconto indevido em seu benefício, aja rapidamente:

  • Contate o INSS pelo 135: Ligue para a Central de Atendimento 135 do INSS. Informe o ocorrido e solicite o bloqueio do desconto e a restituição dos valores. O atendimento é gratuito se a ligação for de telefone fixo ou público e a ligação de celular terá o custo de uma ligação local. O horário de atendimento é de segunda a sábado, das 7h às 22h (horário de Brasília).
  • Registre uma reclamação na Ouvidoria do INSS: Se o atendimento no 135 não resolver, utilize a Ouvidoria do INSS. Você pode acessá-la pelo próprio site do Meu INSS.
  • Procure o PROCON: O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) de sua cidade ou estado é um órgão fundamental para defender seus direitos. Registre uma reclamação detalhada.
  • Busque ajuda jurídica: Em casos mais complexos, ou se a restituição não for efetivada, é aconselhável procurar um advogado especialista em direito previdenciário. Ele poderá entrar com uma ação judicial para garantir seus direitos e a devolução dos valores, muitas vezes com correção monetária e juros.
  • Denuncie: Denuncie a prática à Polícia Civil, ao Ministério Público e aos órgãos de defesa do consumidor. Quanto mais denúncias, maior a pressão sobre esses criminosos.

4. Autorização de descontos associativos: as novas regras

Para evitar futuras fraudes, o INSS reforçou as regras para autorização de descontos associativos. Agora, as associações e entidades conveniadas precisam comprovar a autorização expressa do segurado para o desconto. Essa autorização deve ser clara, específica e, em muitos casos, com validação adicional (como biometria ou assinatura reconhecida em cartório) para dificultar fraudes.

É crucial entender que a filiação a uma associação deve ser um ato voluntário do segurado, com plena ciência dos termos e condições, e jamais imposto ou disfarçado.

Call center
Call center fraude/Reprodução

Conclusão: a informação como escudo protetor

A história dos descontos indevidos por call centers é um lembrete doloroso de que a vigilância e a informação são nossas maiores aliadas. Para os aposentados e pensionistas do INSS, que já contribuíram tanto para a sociedade, a proteção de seus benefícios é uma prioridade.

Mantenha-se informado, monitore seu extrato, desconfie de abordagens inesperadas e, acima de tudo, não hesite em buscar ajuda e denunciar qualquer irregularidade. O INSS, o Ministério Público e os órgãos de defesa do consumidor estão do seu lado nessa batalha. A aposentadoria é um direito, e a segurança do seu benefício é inegociável. Compartilhe essas informações com seus amigos e familiares. Juntos, podemos construir uma rede de proteção ainda mais forte contra essas fraudes e garantir que os anos de contribuição sejam recompensados com a tranquilidade que você merece.

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